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Álcool gel e azeite para fazer chama. O café em Coimbra que não fechou durante o apagão

O Expresso Grill foi dos poucos espaços abertos, garantindo comida a quem procurava algum conforto no meio do caos.
"O local é pequeno, mas com espaço para todos", refere José Queirós.

Álcool gel e azeite numa panela para fazer chama: foi essa a “receita mágica” que permitiu que o café Expresso Grill, a funcionar há cinco anos na Avenida Fernão Magalhães, em Coimbra, mantivesse as portas abertas no dia em que praticamente todos os estabelecimentos se viram obrigados a encerrar.

A ideia, que surgiu na sequência do apagão que afetou todo o País, de norte a sul, esta segunda-feira, 28 de abril, foi do funcionário Bruno Veiga, 47 anos. José Queirós, 60, proprietário do espaço, cuja cozinha funciona só com equipamentos elétricos, abraçou-a de imediato. “Tivemos lume o tempo que quisemos”, conta o dono à NiC.

O menu de almoço foi reduzido, mas as habituais bifanas, sandes e croissants mistos continuaram a sair. Da opção de cinco sopas, três conseguiram ser aquecidas e oferecidas aos clientes que por lá passavam. As bebidas mantiveram-se frescas até ao final tarde nos frigoríficos do Express Grill. “Só no final da tarde é que se notava a diferença nas cervejas, porém, tirando isso, estava tudo espetacular”, assegura o empresário.

Por ser um dos poucos locais abertos na zona e com uma oferta variada, a freguesia, que já contava com clientes residentes, foi aumentando, trazendo consigo a compreensão na hora de ser servida. “As pessoas são solidárias e mudam os seus hábitos quando percebem a situação, aproveitando aquilo que há”, declara, acrescentado ainda que o dia foi “um sucesso para os negócios que se mantiveram abertos”.

Para José Queirós, que trabalha no setor da restauração desde 1992 e se assume como “um indivíduo positivo e resiliente perante o caos”, o segredo para a prosperidade passa por um “bom planeamento”, que faz, segundo ele, parte da identidade do café-restaurante, juntando-se-lhe a experiência na área e até a boa localização.

O empreendedor explica que os frescos são comprados no dia, porém, todos os outros alimentos, são pensados com dois dias de antecedência, o que os prepara para “qualquer imprevisto que surja, tendo sempre um bom stock”.

As sobremesas, como bolo de bolacha, semifrios, mousse de Oreo ou baba de camelo, confecionadas antes da falta de eletricidade generalizada, foram todas vendidas num curto espaço de tempo. “Não notei qualquer quebra no funcionamento, com exceção da incapacidade de servir os produtos como costumávamos fazer, mesmo que tenhamos garantido a qualidade”. O pagamento foi feito 100 por cento a dinheiro — “aconselho as pessoas a terem sempre alguns trocos na carteira”, diz.

A maior inquietação do dono do espaço foi manter os rendimentos necessários para garantir o pagamento de ordenados dos dez funcionários. “Houve uma especulação sobre ficarmos sem energia elétrica durante três dias. Apesar de não ligar muito a essas generalizações, fiquei preocupado. Temos, no entanto, de ser fortes. Já passámos por pior”, conclui.

Apesar de considerar que os estabelecimentos estão demasiado dependentes de energia elétrica e que o apagão foi a prova de que “há muitas fragilidades no sistema”, José Queirós olhar para a situação com positividade e como uma lição sobre “virar o azar a nosso favor”, referindo igualmente o exemplo da loja chinesa, junto ao seu café, que esvaziou as suas prateleiras com a venda de lanternas, velas e rádios.

Para animar o local, que comercializou cerca de seis quilos de bifanas na segunda-feira, o rádio a pilhas foi o melhor aliado. Depois de um dia atribulado e de “muito cansaço por parte de todos”, encerraram no horário habitual, às 22 horas.

FICHA TÉCNICA

  • MORADA
    Av. Fernão de Magalhães 619
    3000-178 Coimbra
  • HORÁRIO
  • De segunda-feira a sábado das 7 horas às 22 horas
PREÇO MÉDIO
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